Regulamentações de stablecoins da UE deixam a Europa vulnerável, diz chefe do BCE

A presidente do Banco Central Europeu (ECB), Christine Lagarde, pediu aos legisladores que acelerem a criação de leis voltadas para os riscos apresentados pelas stablecoins.

Falando na conferência do European Systemic Risk Board (ESRB) em 3 de setembro, Lagarde alertou que, embora as stablecoins pareçam inovadoras, elas reintroduzem vulnerabilidades financeiras já conhecidas em novas formas.

De acordo com ela:

“As categorias de risco que elas criam não são novas. São riscos há muito tempo conhecidos por supervisores e reguladores.”

Riscos das stablecoins

Lagarde enfatizou que a liquidez continua sendo a preocupação mais imediata do setor emergente.

Ela explicou que os emissores de stablecoins frequentemente prometem resgate instantâneo ao valor de face enquanto investem em ativos que podem não ser líquidos o suficiente para suportar uma demanda repentina. Esse desequilíbrio, se não for controlado, pode desencadear corridas desestabilizadoras.

[Nota do Editor: Vale lembrar que uma demanda repentina de saque pelos clientes equivalente a 5% dos ativos sob gestão do banco Northern Rock no Reino Unido levou ao seu colapso, enquanto em 2022, a Tether conseguiu realizar resgates de quase 30% sem qualquer problema.]

Ela também destacou brechas no regulamento Markets in Crypto-Assets (MiCA) da União Europeia, especificamente nos “esquemas de emissão múltipla”. Sob esse esquema, uma entidade da UE e uma entidade fora da UE poderiam emitir conjuntamente stablecoins fungíveis.

No entanto, a presidente do ECB apontou que os requisitos do MiCA não se aplicam ao emissor fora da UE.

Assim, se os investidores correrem para resgatar suas participações, a pressão recairia de forma desproporcional sobre as reservas do emissor da UE, que podem se mostrar insuficientes no mercado.

Lagarde observou que esse cenário reflete problemas já vistos em grupos bancários transfronteiriços. Os reguladores já impõem padrões de liquidez, como a razão de financiamento estável líquida, para evitar desequilíbrios, mas proteções semelhantes ainda não existem para as stablecoins.

Ela concluiu que a Europa corre o risco de se tornar o elo fraco nos fluxos globais de resgate sem salvaguardas mais robustas.

Apelos por legislação mais rigorosa

Considerando isso, Lagarde instou os legisladores a fecharem essas lacunas restringindo esquemas de stablecoins que não tenham proteções equivalentes em outras jurisdições. Ela argumentou que uma legislação concreta é necessária para garantir a estabilidade e evitar a arbitragem regional.

Ela afirmou:

“Precisamos tomar medidas concretas agora. A legislação europeia deve garantir que tais esquemas não possam operar na UE a menos que sejam apoiados por regimes de equivalência robustos em outras jurisdições e salvaguardas relativas à transferência de ativos entre entidades da UE e de fora da UE.”

Seus comentários também enfatizaram a importância da coordenação internacional para fiscalizar o setor emergente. Sem padrões globais, os riscos podem migrar para jurisdições com regras mais fracas, minando as salvaguardas financeiras da Europa.

Regulamentações de stablecoins da UE deixam a Europa vulnerável, diz chefe do ECB, conforme publicado originalmente na CryptoSlate.