Colapso das importações impulsiona aumento no saldo comercial dos EUA

Enquanto os mercados acompanham cada sinal macroeconômico para antecipar os movimentos do Fed, um importante indicador acabou de contrariar as previsões. O déficit comercial dos Estados Unidos caiu quase 24% em um mês. Em um contexto global de alta tensão, entre acordos tarifários renegociados e cadeias de suprimentos interrompidas, essa queda inesperada levanta questões estratégicas. Ela também pode influenciar os fluxos de capital, remodelar os equilíbrios econômicos e fortalecer o interesse por ativos descentralizados como o bitcoin.

A Queda do Déficit dos EUA

O Departamento de Comércio dos EUA anunciou uma queda histórica no déficit comercial, que passou de 78,4 para 59,6 bilhões de dólares em agosto, uma redução de 23,9% em apenas um mês, enquanto as tarifas de Trump continuam a semear o caos nos mercados.

Esse movimento é explicado quase exclusivamente por uma queda nas importações, que recuaram 5,1%, marcando sua maior queda mensal em quatro meses. Ao contrário de uma dinâmica cíclica clássica, essa correção reflete uma resposta direta às novas tarifas impostas pela administração Trump.

De fato, as empresas reduziram suas compras no exterior após a entrada em vigor das novas tarifas de Trump. Essa redução resume perfeitamente a reação rápida do tecido econômico a esse ponto de virada protecionista.

Assim, certas categorias de bens foram particularmente afetadas devido à sua exposição aos novos impostos. Entre as quedas mais significativas estão:

• Ouro não monetário: alvo de uma tarifa de 39% imposta à Suíça, um dos principais fornecedores de metais preciosos para os Estados Unidos. As importações despencaram, levando a uma redução no déficit bilateral com Berna;

• Bens de capital: as importações de equipamentos tecnológicos, incluindo acessórios de informática e dispositivos de comunicação, registraram uma queda notável;

• Fluxos antecipados revertidos: no mês anterior, as empresas importaram em massa antecipando o aumento das tarifas, o que amplifica o efeito de queda observado em agosto.

Esses números não estão ajustados pela inflação, mas mesmo corrigidos, a tendência é a mesma: o déficit comercial de bens contraiu para 83,7 bilhões de dólares, seu menor nível desde o final de 2023. Essa queda acentuada reflete menos uma melhora estrutural na balança comercial do que um efeito de limiar causado por uma mudança nas regras do jogo. As exportações, por outro lado, aumentaram ligeiramente, mas essa evolução permanece marginal em comparação com o colapso das importações.

Rumo a um Realinhamento Geoeconômico? O Acordo com a Suíça e a Realocação Direcionada

À medida que as tensões comerciais aumentaram, os Estados Unidos e a Suíça rapidamente iniciaram discussões para aliviar a situação.

O Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, afirmou em entrevista à CNBC que Washington e Berna “basicamente chegaram a um acordo” para reduzir a tarifa sobre o ouro suíço de 39% para 15%.

“Publicaremos os detalhes do acordo hoje no site da Casa Branca,” disse ele, acrescentando que todos os termos seriam divulgados na sexta-feira. O objetivo declarado da administração dos EUA é claro: usar essas negociações como alavanca para atrair mais atividade industrial suíça para o solo americano. Greer mencionou especificamente setores como farmacêutico, fundição de ouro e equipamentos ferroviários como alvos prioritários dessa estratégia de realocação.

Esse acordo marca o fim de um impasse comercial tenso, iniciado quando Trump impôs unilateralmente uma tarifa de 39%, mais que o dobro da aplicada aos países da União Europeia. Berna foi pega de surpresa, acreditando que um acordo já estava em vigor anteriormente.

Nesse contexto, as indústrias suíças, especialmente os setores de relojoaria, mecânica de precisão e instrumentos científicos, foram particularmente afetadas. O acordo obtido deve, segundo Greer, “permitir que esses setores se recuperem e exportem novamente para os Estados Unidos sem tarifas punitivas.”

Esse episódio ilustra claramente o endurecimento das relações comerciais internacionais, mas também o desejo dos Estados Unidos de reequilibrar sua balança comercial por meio de parcerias direcionadas, em vez de uma abertura generalizada.

No médio prazo, essa dinâmica pode embaralhar algumas cartas nas cadeias globais de valor. A reindustrialização americana, favorecida por acordos comerciais condicionais, pode modificar os fluxos logísticos, especialmente em metais preciosos e alta tecnologia.

Nesse clima de incerteza, o bitcoin volta a ganhar apelo como porto seguro, atraindo investidores em busca de alternativas em meio à turbulência macroeconômica.

Para os mercados financeiros, essas mudanças devem ser acompanhadas de perto, pois influenciam diretamente os cálculos do PIB (o modelo GDPNow do Fed de Atlanta antecipou um acréscimo de +0,57 ponto no terceiro trimestre devido às exportações líquidas, uma estimativa que provavelmente será revisada). Resta saber se esse ponto de virada comercial será confirmado nos próximos meses, enquanto um acordo estratégico sobre terras raras pode ser assinado antes do Dia de Ação de Graças.