- O presidente Kelvin Wong alerta sobre preços inflacionados das ações de DAT.
- Boyaa Interactive e Ourgame International estão entre as empresas afetadas.
- Índia e Austrália também tomam medidas para restringir listagens com forte presença de criptoativos.
A Securities and Futures Commission (SFC) de Hong Kong intensificou sua fiscalização sobre empresas listadas com tesourarias de ativos digitais (DATs) após constatações sugerirem que investidores de varejo podem ter perdido bilhões negociando essas ações.
O órgão regulador está preocupado que os preços das ações de algumas empresas possam estar sendo negociados muito acima do valor de suas participações em criptoativos, levantando questões sobre proteção ao investidor e transparência de mercado.
Essa medida ocorre em meio a uma crescente preocupação global sobre a exposição corporativa a ativos digitais, com reguladores em Hong Kong, Índia e Austrália reforçando a supervisão de empresas que integram criptoativos em seus balanços.
SFC sinaliza risco de avaliações inflacionadas das ações
O presidente da SFC, Kelvin Wong Tin-yau, afirmou que o órgão está monitorando de perto como as empresas listadas gerenciam seus ativos em cripto, já que alguns preços das ações podem não refletir o valor real de suas participações.
Wong citou exemplos dos Estados Unidos, onde empresas expostas a ativos digitais viram suas avaliações dispararem para mais que o dobro do custo de seus portfólios de criptoativos.
Constatações da 10X Research, sediada em Singapura, no início deste mês, indicaram que investidores de varejo podem ter perdido coletivamente cerca de US$ 17 bilhões negociando empresas de tesouraria de ativos digitais.
Muitas dessas perdas vieram de investidores comprando ações com um prêmio muito acima do valor patrimonial líquido da empresa.
Algumas das empresas de DAT mais ativas de Hong Kong, incluindo Boyaa Interactive e Ourgame International, viram o desempenho de suas ações enfraquecer em meio à volatilidade do mercado de criptoativos.
A crescente preocupação da SFC reflete um esforço mais amplo para avaliar se tais empresas representam riscos à estabilidade financeira, especialmente quando os preços das ações são impulsionados mais pela demanda especulativa do que pelo desempenho operacional.
Reguladores agem contra tentativas de rebranding
As autoridades de Hong Kong já tomaram medidas contra empresas que tentam se rebatizar como entidades detentoras de criptoativos sem operações comerciais substanciais.
A SFC citou regras de listagem que limitam as empresas de manter ativos líquidos excessivos, incluindo criptomoedas, em seus balanços sem demonstrar uma justificativa operacional clara.
Wong afirmou que os investidores devem “compreender totalmente os riscos subjacentes dos DATs”, acrescentando que a comissão planeja expandir suas campanhas de educação pública para ajudar os investidores de varejo a entender como funcionam as tesourarias de ativos digitais e a volatilidade de mercado que podem enfrentar.
Assim que sua revisão for concluída, a SFC determinará se são necessárias diretrizes específicas para DATs, já que Hong Kong atualmente não possui um marco regulatório para empresas listadas que investem diretamente em criptomoedas.
Cautela global se espalha pelos mercados
A cautela regulatória não se limita a Hong Kong. No início deste mês, desenvolvimentos semelhantes surgiram na Índia e na Austrália, onde bolsas levantaram preocupações sobre empresas listadas transferindo grandes porções de seu capital para criptoativos.
Na Austrália, a Australian Securities Exchange (ASX) restringe empresas listadas de manter mais de 50% de seus ativos em dinheiro ou instrumentos equivalentes a dinheiro, uma regra que dificulta tentativas de construir balanços fortemente expostos a criptoativos.
Na Índia, a Bombay Stock Exchange recentemente rejeitou uma proposta de listagem da Jetking Infotrain devido aos planos da empresa de alocar fundos para ativos digitais.
Em diferentes jurisdições, os reguladores estão cada vez mais alinhados quanto à necessidade de uma supervisão mais clara sobre a exposição corporativa a criptoativos.
Preocupações do setor sobre modelos insustentáveis
Especialistas do setor de cripto expressaram preocupação de que muitas empresas de DAT operam sem estruturas de governança robustas ou controles de risco definidos.
Sem estratégias claras para gerenciar a volatilidade dos ativos ou choques de liquidez, investidores de varejo podem enfrentar perdas acentuadas durante quedas de mercado.
Embora as tesourarias de ativos digitais ofereçam às empresas uma nova forma de diversificar suas participações, os reguladores argumentam que tais movimentos devem ser respaldados por fundamentos empresariais sólidos, e não apenas por entusiasmo especulativo.
A revisão da SFC marca um passo importante para definir como empresas listadas podem integrar criptoativos de forma responsável em suas estratégias financeiras sem colocar em risco os acionistas.
