Uma nova era de computação compartilhada? Bless Network lança mainnet desafiando o monopólio da nuvem

Em um cenário digital cada vez mais dominado por gigantes monolíticos da tecnologia, uma revolução silenciosa pode estar em andamento. A Bless Network, autodenominada “computador compartilhado”, lançou oficialmente sua mainnet, conforme anunciado em 23 de setembro de 2025. O novo protocolo permite que qualquer pessoa contribua com seu poder computacional ocioso e ganhe criptomoedas em troca.

A Bless pretende desafiar o modelo tradicional de computação em nuvem e, nesse processo, democratizar o acesso a uma indústria de múltiplos trilhões de dólares.

Durante anos, os vastos lucros do mercado global de computação em nuvem, que agora está “se aproximando de 1 trilhão de dólares”, fluíram quase exclusivamente para um punhado de empresas como Amazon Web Services (AWS) e Google Cloud. Isso criou uma infraestrutura centralizada, onde o poder computacional está concentrado em grandes data centers que consomem muitos recursos.

No entanto, a Bless propõe uma visão radicalmente diferente: uma infraestrutura pertencente e operada pelas pessoas. Segundo o anúncio, o lançamento ocorre após menos de um ano de atividade em testnet, período em que a rede cresceu para mais de 6,3 milhões de nós e 2,5 milhões de usuários, tornando-se uma das maiores testnets de computação descentralizada até hoje.

Empoderando o usuário comum

A Bless Network afirma que seu apelo está em sua acessibilidade incomparável. Enquanto outras plataformas de computação descentralizada frequentemente exigem conhecimento técnico, habilidades de programação ou gerenciamento complexo de servidores, a Bless afirma ter removido essas barreiras.

A plataforma opera por meio de uma simples extensão de navegador, transformando a experiência do usuário de um obstáculo técnico em um processo contínuo de “clicar e ganhar”.

Essa abordagem direta é “a primeira ponte realmente viável para usuários Web2 entrarem na infraestrutura descentralizada”, segundo a equipe. Ela resolve uma lacuna crítica que limitou a adoção mais ampla da computação descentralizada.

Ao democratizar a posse da infraestrutura, a Bless afirma tornar possível que estudantes, pequenas empresas e usuários sem conhecimento técnico se tornem participantes ativos no crescimento da economia digital.

Como diz Michael Chen, cofundador da Bless Network: “Estamos construindo um mundo onde qualquer pessoa, em qualquer lugar, pode ajudar a alimentar a IA e os aplicativos e ferramentas que usam todos os dias, e ser recompensada por isso.”

Os benefícios para os usuários são duplos, de acordo com a equipe do protocolo. Primeiro, os usuários podem ganhar recompensas em criptomoedas simplesmente contribuindo com seu poder de CPU e GPU não utilizado. Segundo, eles deixam de ser apenas consumidores passivos de tecnologia; tornam-se parte de uma infraestrutura de propriedade comunitária.

Esse modelo beneficia diretamente tanto os contribuintes quanto os desenvolvedores, já que o crescimento e a utilização da rede se traduzem em valor tangível para seus membros.

O motor econômico: tokens TIME e BLESS

O modelo econômico por trás da Bless foi projetado para recompensar a participação enquanto garante valor a longo prazo. O sistema utiliza dois tokens: TIME e BLESS.

Os usuários ganham tokens TIME proporcionalmente às suas contribuições, semelhante a um programa de fidelidade. Este é o token transacional que os usuários acumulam por seu trabalho. Não se trata apenas de fornecer poder computacional, afirma a equipe; o TIME também representa “a criação de material educacional, organização de iniciativas comunitárias e outras atividades que ajudam a expandir a rede”.

O verdadeiro valor, no entanto, está atrelado ao token BLESS, o token de governança da rede, que possui um fornecimento total fixo de 10 bilhões. A cada poucos meses, em períodos chamados de “Chapters”, os usuários podem trocar seus tokens TIME por BLESS.

O fornecimento de TIME é sazonal, com um fornecimento fixo de 100 milhões de TIME cunhados em cada Chapter. Ao final de cada Chapter, qualquer TIME não resgatado é queimado ou resgatado, criando um mecanismo deflacionário que sustenta o valor do BLESS a longo prazo. Essa abordagem foi projetada para garantir que as recompensas fossem para os membros da comunidade que ajudaram a construir a base da rede, em vez de especuladores.

De acordo com a equipe da Bless Network, “45% do BLESS está reservado para recompensar a comunidade”, destacando seu compromisso com um modelo centrado na comunidade.

Esse sistema transforma efetivamente o computador ocioso do usuário em uma fonte de renda, permitindo que ele “capture valor desse boom em vez de assistir aos lucros fluírem exclusivamente para as grandes empresas de tecnologia”, afirma o anúncio. É uma proposta de valor poderosa e simples que pode atrair qualquer pessoa que queira lucrar com o boom tecnológico sem precisar ser um mago da programação ou cientista de dados.

Vantagem descentralizada: Desafiando o status quo

Além dos benefícios econômicos para os usuários, a arquitetura distribuída da Bless Network afirma oferecer outras vantagens significativas em relação aos serviços de nuvem centralizados. Enquanto empresas como AWS e Google Cloud dependem de enormes data centers centralizados, a Bless opera em uma rede de milhões de dispositivos individuais. Esse modelo distribuído pode oferecer vários benefícios-chave, segundo a equipe do protocolo:

• Eficiência de custos. A arquitetura distribuída da Bless pode oferecer até “90% de redução de custos” em comparação com os serviços tradicionais de nuvem. Isso torna a computação de alto desempenho acessível a um público muito mais amplo, desde desenvolvedores independentes até pequenas empresas.
• Menor latência. Ao distribuir os nós geograficamente em milhões de dispositivos, a rede pode proporcionar menor latência para aplicações, especialmente para aquelas que exigem resposta próxima ao usuário final.
• Resiliência e escala. A escala da rede, com mais de cinco milhões de nós em sua fase de testnet, proporciona cobertura e resiliência mais extensas do que muitas alternativas centralizadas. Se um nó ficar offline, inúmeros outros estão prontos para assumir a carga.

Segundo a equipe da Bless, a diferença crucial está na gestão da confiança e confiabilidade. Provedores centralizados como AWS “possuem data centers em todo o mundo e os orquestram com um framework Kubernetes. Como eles são donos desses data centers, transferiram a camada de confiança e confiabilidade para os humanos.”

Em contraste, plataformas descentralizadas devem confiar apenas na tecnologia.

Protegendo o computador compartilhado: Confiança sem autoridade central

O usuário cético pode se perguntar se um sistema onde contribuintes e desenvolvedores são desconhecidos pode realmente ser seguro. Em uma tentativa de abordar essa preocupação, a Bless afirma que pode prevenir o uso indevido e proteger os dados dos usuários por meio de uma abordagem tecnológica em múltiplas camadas.

“O uso não autorizado, no sentido de um desenvolvedor atacar o operador do nó, é evitado com nosso sandbox seguro WASM”, afirma a equipe. Segundo os documentos do protocolo, esse ambiente seguro WebAssembly (WASM) pré-compila todas as implantações em um formato binário e as processa em um ambiente isolado.

Isso significa que o operador do nó não tem ideia de qual carga de trabalho está sendo processada, e o software não pode acessar o ambiente mais amplo da máquina hospedeira para obter informações privadas.

Além disso, a Bless afirma garantir a integridade do próprio trabalho. “A Bless também implementa mecanismos de redundância, consenso e verificação para que cargas de trabalho possam ser processadas por vários computadores ao mesmo tempo, e sua correção pode ser verificada por mecanismos como pBFT, RAFT ou ZK proofs.”

Essa abordagem tecnológica de verificação substitui a camada de confiança humana de um data center central, garantindo que o trabalho seja realizado de forma precisa e confiável.

Para confiabilidade, a Bless possui “um sistema de fail-over em subsegundos, onde, se uma coorte de nós falhar na execução, a carga de trabalho será automaticamente passada para outra coorte, e também um sistema de reputação em que nós que não executarem corretamente serão, ao longo do tempo, despriorizados na alocação de cargas de trabalho e eventualmente removidos da rede.”

Essa combinação de salvaguardas técnicas e um modelo de incentivo baseado em reputação visa criar um ecossistema robusto e autossustentável.

O futuro da infraestrutura

A equipe da Bless afirma que lançou sua rede em resposta direta às crescentes preocupações sobre a concentração de poder nas mãos de poucas grandes corporações. Ao criar uma alternativa viável e de propriedade comunitária, a Bless argumenta que está remodelando a forma como os recursos computacionais são alocados globalmente.

Essa abordagem democratizada posiciona a Bless como uma solução poderosa para usuários que desejam participar do crescimento da economia digital, independentemente de seu nível de conhecimento técnico. A crescente base de usuários da plataforma, com mais de cinco milhões de nós, pode fornecer a base para uma infraestrutura de internet capaz de alimentar desde aplicações de IA até serviços de streaming e além.

Se for bem-sucedida, os benefícios econômicos dessa infraestrutura fluirão diretamente para as próprias pessoas que a alimentam, criando um novo modelo, mais equitativo, para a era digital. Na visão da Bless, todo computador, por menor que seja, tem o potencial de contribuir para um todo maior e compartilhado, e todo usuário pode se beneficiar diretamente do crescimento que ajuda a criar.