O fim do cross-chain é a colaboração: como o REVM pode levar a Polkadot à era da cooperação entre múltiplas blockchains!

O destino do cross-chain é a colaboração, não apenas a conexão!

No início da tecnologia blockchain, cada cadeia era como uma ilha isolada — cada uma com seus próprios ativos, utilizadores e regras, mas sem comunicação entre si.

Foi então que surgiram as “pontes cross-chain (Bridge)”, funcionando como autoestradas que conectam essas ilhas isoladas, permitindo o fluxo livre de ativos e informações.

Mas apenas “conectar” não é suficiente. Se a era cross-chain 1.0 resolveu a questão de “é possível interligar?”, então a Polkadot está a entrar na era cross-chain 2.0 — “como colaborar”.

Desde o início, a Polkadot nunca foi uma blockchain única, mas sim uma rede multi-chain criada para a interoperabilidade. Agora, com a implementação das pontes nativas Hyperbridge e Snowbridge, e com o lançamento iminente do REVM, o cross-chain deixa de ser um privilégio exclusivo dos engenheiros de sistemas e passa a ser uma “função padrão” acessível a qualquer programador.

Este artigo vai ajudá-lo a compreender o panorama completo do cross-chain na Polkadot: desde a Snowbridge, minimizando a confiança, à Hyperbridge, promovendo a comunicação entre múltiplas cadeias, até à nova era programável do cross-chain com o REVM. As capacidades cross-chain da Polkadot estão a entrar numa nova fase — da “interconexão” ao nível do sistema para a “colaboração” ao nível dos contratos.

Snowbridge e Hyperbridge já estabeleceram a base

Snowbridge: a ponte “minimamente confiável” entre Ethereum e Polkadot

A Snowbridge é a ponte cross-chain nativa oficialmente suportada pela Polkadot para conectar o ecossistema Ethereum. O seu maior destaque é não depender de validadores terceiros, mas sim utilizar “light clients” implementados em ambas as cadeias para validar estados mutuamente, alcançando uma transmissão segura praticamente sem confiança.

De forma simples, as pontes anteriores funcionavam como “intermediários” para transferir ativos, enquanto a Snowbridge é uma “ligação direta do sistema”, sem necessidade de intermediários.

Atualmente, a Snowbridge já suporta mais de 100 ativos ERC-20 (como USDC, USDT, WETH) e tornou-se o canal oficial mais estável entre Polkadot ↔ Ethereum.

Hyperbridge: o “hub de transporte tridimensional” entre múltiplas cadeias

Se a Snowbridge é o canal dedicado ao Ethereum, a Hyperbridge é um “hub central multi-chain”. Ela abrange os ecossistemas Ethereum, Arbitrum, Optimism, Base, BNB Chain, Gnosis, e também suporta cadeias Cosmos como Sei e Berachain.

Mais impressionante ainda, a Hyperbridge opera numa parachain da Polkadot, usufruindo do nível de segurança da relay chain. Já colaborou com a Uniswap V4 para lançar o pool de liquidez DOT/ETH, que ultrapassou 3 milhões de dólares em TVL apenas duas semanas após o lançamento.

Com estas duas pontes oficiais, Snowbridge + Hyperbridge, a Polkadot tornou-se um dos ecossistemas mais completos em termos de conexão cross-chain.

REVM torna o cross-chain “programável”

Com o lançamento iminente do REVM (Rust Ethereum Virtual Machine) no Polkadot Hub, as pontes cross-chain passarão de “lógica de backend” ao nível do sistema para “funções de frontend” que os programadores podem invocar diretamente em contratos inteligentes.

O REVM em si não é uma ponte, mas sim um ambiente de execução que permite que contratos comuniquem diretamente com pontes nativas como Snowbridge e Hyperbridge.

Resumindo, antes, apenas a equipa central da Polkadot podia implementar pontes ao nível do sistema; no futuro, qualquer programador poderá construir e reutilizar as funcionalidades dessas pontes ao nível dos contratos inteligentes.

Integração nativa da Hyperbridge com o Polkadot Hub

Esta tendência já está em curso. A equipa da Hyperbridge está a integrar-se profundamente com o Polkadot Hub, planeando implementar diretamente o Pallet da Hyperbridge no Hub. Através de interfaces precompiladas (precompile), os contratos inteligentes (quer corram em PolkaVM ou REVM) poderão interagir diretamente com o protocolo ISMP, enviando e recebendo mensagens cross-chain.

“A nossa visão é integrar a Hyperbridge nativamente no Hub, ou seja, o Pallet da Hyperbridge será implementado diretamente no Hub. Através da interface precompilada, os contratos inteligentes poderão interagir diretamente com o ISMP, enviando e recebendo mensagens cross-chain.”

—— Seun, cofundador da Hyperbridge

Atualmente, esta integração já se encontra numa fase avançada, com a Hyperbridge já a submeter os PRs relevantes no seu repositório. Espera-se que seja testada primeiro na testnet e, posteriormente, implementada na mainnet. Isto significa que, com o lançamento oficial do REVM, a capacidade cross-chain da Polkadot será, pela primeira vez, totalmente integrada entre o sistema e o nível dos contratos.

Duas rotas cross-chain à escolha dos programadores

Com o lançamento do REVM, surgirão dois modelos de desenvolvimento cross-chain viáveis.

Opção 1: Escrever o seu próprio “endpoint de contrato de ponte” no REVM

Esta abordagem é adequada para dApps inovadores que necessitam de lógica personalizada — é a forma mais flexível e livre. Pode controlar totalmente a lógica de interação cross-chain e até criar experiências cross-chain totalmente novas.

Cenários adequados

• Pagamentos cross-chain / sistemas de liquidação: por exemplo, uma ferramenta de pagamento Web3 onde, após o pagamento em Ethereum, o destinatário em Polkadot recebe automaticamente os ativos ou aciona ações em contratos inteligentes. Ideal para e-commerce, recargas em jogos, liquidação de transações NFT, etc., que exigem “liquidação instantânea cross-chain”. 
• Protocolos DeFi cross-chain: por exemplo, para distribuir liquidez automaticamente entre várias cadeias, fazer agregação de rendimentos ou empréstimos colateralizados cross-chain. Estes cenários, que exigem lógica personalizada de fluxo (em que cadeia colateralizar, em que cadeia emprestar), são mais adequados para quem escreve a sua própria ponte. 
• Estratégias automatizadas cross-chain / Bots: como bots de arbitragem ou de liquidação, que precisam monitorizar diferenças de preços entre cadeias e agir rapidamente. Não precisam de “UI de ponte”, mas sim de lógica de ponte altamente flexível e de baixa latência. 
• Novos projetos de ponte ou infraestruturas cross-chain: equipas que pretendem criar novos “produtos de ponte” (como a próxima geração LayerZero, Synapse) usarão esta abordagem para escrever a lógica dos endpoints da ponte. 

Vantagens

• Alta flexibilidade, pode fazer cross-chain como quiser; 
• Pode definir métodos de validação e lógica de acionamento de eventos; 
• Não depende do ritmo de atualizações das pontes oficiais da Polkadot. 

Desvantagens

• É necessário compreender os mecanismos cross-chain subjacentes; 
• Custo mais elevado (tem de gerir validação e segurança por conta própria); 
• Exige maior conhecimento técnico dos programadores. 

Opção 2: Integrar as pontes nativas da Polkadot (Snowbridge, Hyperbridge)

Esta abordagem é adequada para dApps existentes que pretendem “adquirir rapidamente capacidades cross-chain”. É a forma mais simples. Não precisa de compreender os princípios dos protocolos cross-chain — basta integrar a interface da ponte oficial para que a sua aplicação suporte operações cross-chain imediatamente.

Cenários adequados

• DEX cross-chain (bolsas descentralizadas): por exemplo, uma bolsa que queira suportar trocas cross-chain ETH↔DOT ou agregar liquidez de múltiplas cadeias; basta invocar a interface da Snowbridge/Hyperbridge. 
• Protocolos de empréstimo / staking: por exemplo, uma plataforma de empréstimos que permita aos utilizadores colateralizar ativos em Polkadot e pedir stablecoins emprestadas em Ethereum; pode usar a Hyperbridge para sincronizar ativos e estados de dívida dos utilizadores. 
• Projetos de stablecoin: projetos como Hollar (stablecoin colateralizada em DOT) podem precisar de circular entre várias cadeias; ao integrar a ponte oficial, podem transferir stablecoins cross-chain sem reconstruir a infraestrutura. 
• RWA (ativos do mundo real) e aplicações reguladas: bancos e instituições que emitem obrigações, ações e fundos tokenizados; não querem escrever lógica de ponte complexa, apenas usar o canal seguro e regulado da ponte oficial. 

Vantagens

• Simples, estável, seguro; 
• Interfaces padronizadas, compatíveis com XCM e padrões de ativos; 
• Beneficia do nível de segurança da relay chain, sem necessidade de confiança adicional. 

Desvantagens

• Menor flexibilidade (a lógica é definida pelo sistema); 
• Não permite personalizar lógica cross-chain especial; 
• Depende dos tipos de cadeias suportados pelas pontes oficiais. 

Em resumo

Portanto, resumindo:

• dApps que querem “inovar” devem usar o REVM para escrever a sua própria ponte;
• dApps que querem “rapidez e estabilidade” devem usar diretamente as pontes oficiais.

Quando a ponte é mais do que uma ponte: REVM leva a Polkadot à era da colaboração multi-chain

O desenvolvimento da blockchain nunca foi uma competição isolada, mas sim uma revolução colaborativa. Na última década, resolvemos “como fazer as cadeias existirem”; agora, a Polkadot está a responder “como fazer as cadeias colaborarem”.

A Snowbridge conecta verdadeiramente Ethereum e Polkadot, a Hyperbridge integra mais ecossistemas numa linguagem cross-chain comum, e a chegada do REVM leva as capacidades cross-chain até à ponta dos dedos de cada programador.

Quando a ponte deixa de ser apenas um “canal” e passa a ser um “protocolo de colaboração” programável ao nível do sistema, o futuro multi-chain deixará de ser uma competição entre cadeias para se tornar uma simbiose entre aplicações.

Assim, o cross-chain no ecossistema Polkadot já passou por três etapas:

1️⃣ Fase de interligação básica: comunicação de mensagens entre parachains via XCM;

2️⃣ Fase de interligação de ecossistemas: integração de cadeias externas através da Snowbridge e Hyperbridge;

3️⃣ Fase de colaboração programável (em breve): o REVM permite que os próprios contratos utilizem diretamente funcionalidades cross-chain.

A narrativa cross-chain da Polkadot está a evoluir de “ponte de ativos” para “ponte de lógica de aplicação”. No futuro, uma DEX, uma plataforma NFT ou um protocolo RWA poderão colaborar naturalmente entre múltiplas cadeias, sem necessidade de camadas intermediárias ou custódia de terceiros.

A chegada do REVM não só torna o ecossistema Polkadot compatível com contratos inteligentes Ethereum, mas, mais importante ainda — abre a infraestrutura cross-chain da Polkadot a todos os programadores.

Quando os programadores puderem reutilizar livremente as capacidades da Snowbridge e Hyperbridge no REVM, o cross-chain deixará de ser apenas uma questão de fluxo de ativos e passará a ser um novo capítulo de colaboração entre aplicações.

Isto significa que a capacidade cross-chain da Polkadot está a evoluir de “interconexão de recursos” para “partilha de lógica” — da existência da ponte para a sua dissolução.

Assim, a Polkadot passa de “interconexão multi-chain” para “colaboração multi-chain” — e talvez seja este o verdadeiro modelo do mundo Web3.